quinta-feira, 26 de novembro de 2009

CHANGE YOUR HEART

São 2h50 da madrugada. Acabo de assistir Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças - Eternal Sunshine of the Spotless, a noite estava ótima para ver um bom filme, debaixo do edredon "tudo" perfeito. Os mosquitos me atacavam incessantemente, apesar de me fazerem companhia, rsrsrs... tudo bem que não se compara a um bom abraço e o aconchego de alguém especial, enfim... Durante o dia muito sol, no fim da tarde já anoitecendo cai uma chuva para amenizar o calor que já estava insuportável. Porém, talvez tenha escolhido o filme errado para ver, aconselho que não assistam-o sozinho, principalmente se tiverem passado por algo parecido recentemente. Toda e qualquer semelhança NÃO é pura coincidência!!! rsrsrs...

Ao final do filme procurei a trilha sonora que também é fantástica. Everybody's Gotta Learn Sometimes interpretado por Beck, fechou com chave de ouro!

Acabei achando também uma ótima sinopse com uma pitade de análise a respeito de Brilho Eterno e me deparei fazendo algumas reflexões sobre escolhas e destinos da vida. Como diria a música, "Alguma hora todo mundo tem que aprender", não demore para perceber isso, chances vem e vão, depois não há ficção que apague o pesar.

Aos que se interessam e que ainda não viram, fica a dica, recomendo que vejam!!!

Abs,
GregOne


Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

(Eternal Sunshine of the Spotless Mind, 2004)



O que parecia impossível aconteceu: Charles Kaufman se superou. Kaufman já havia escrito algumas semi obras-primas, como os magníficos roteiros de Quero Ser John Malkovich e Adaptação, então já sabia que podia esperar algo bom de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças. Esperava algo bom, mas, sinceramente, não tão bom! Além de demonstrar o inteligente modo de contar histórias a que estamos acostumados, aproveitando todas as ramificações que o fio condutor principal proporciona, dessa vez ainda há um tema bastante comum, discutido entre praticamente 99% das pessoas que irão assisti-lo: os problemas de relacionamento. Kaufman é um caso raro atualmente em Hollywood, onde o roteirista consegue chamar tanta atenção quanto as estrelas que atuam nos filmes em que escreve (já que não dirige seus trabalhos).
Dessa vez, o buraco é muito mais embaixo do que apenas contar uma história divertida. E se você pudesse apagar de sua memória toda uma recordação, seja aquele animal de estimação falecido recentemente ou, ainda pior, esquecer aquela pessoa que você mais amou na vida e recentemente lhe causou uma mágoa? Se isso fosse possível, imagine quantas pessoas iriam apagar outras simplesmente por impulso, raiva passageira? Imaginem quantos filhos não iriam apagar seus pais das cabeças, quantas namoradas iriam apagar namorados por besteiras (e vice-versa) ou quanta história de diversas pessoas iriam sumir por ser muito mais fácil esquecer do que tentar vencer obstáculos?
É exatamente por essas linhas que Kaufman trabalha seu novo roteiro. Jim Carrey interpreta Joel, um marido magoado por sua esposa tê-lo deletado de sua vida. Inconformado, resolve retribuir na mesma moeda e procura o Doutor Howard Mierzwiak para passar pela mesma experiência. No decorrer da operação, Joel percebe que, na verdade, ele não quer excluir Clementine de sua vida, e sim manter bem vivos em sua memória os momentos que foram felizes. Olhando essa sinopse, tudo pode parecer simples. Mas quem conhece Kaufman sabe que não é nada disso. Joel começa então uma luta em sua própria mente para tentar não esquecer Clementine, levando-a para lugares em sua memória onde ela não esteve na verdade, assim escondendo-a do "deletamento" ao qual estava se submetendo. Esse é um dos grandes trunfos de Kaufman: a brincadeira do roteiro nas mais diversas situações.
O melhor é que tudo faz sentido. Apesar de poder ficar um pouco perdido durante grande parte do filme, pensando nele aos poucos é possível perceber que tudo se encaixa maravilhosamente bem. Constantemente entramos dentro da mente de Joel na história, conhecendo o passado do personagem, o que pode confundir os menos atentos pelas idas e vindas na vida de Joel. Aliás, a atenção é um dos pontos importantíssimos que uma pessoa deve ter ao assistir Brilho Eterno, já que até para entender os sofrimentos dos personagens, é necessário estar por dentro da bola de neve sentimental em que o casal Joel e Clementine estavam.
Momentos bons são contrastados com momentos muito ruins da relação, o que nos faz torcer por eles, pois é claramente possível ver o quanto os personagens se amavam antes da decisão de um deletar o outro. Isso torna o filme muito terno, sensível, tocante, pois sabemos que aquele tipo de situação está presente na vida de qualquer um. Deixando as besteiradas de lado, será que apagar uma pessoa da cabeça valeria realmente a pena? Esse é o questionamento final (calma, não contei nada de importante, esse é o fio condutor básico do filme). Será que, mesmo com todos os problemas dentre uma relação, o caminho mais fácil é simplesmente esquecer tudo o que já passou com a pessoa amada?
Outra grande sacada da história é integrar todos os personagens dentro da situação, tendo eles feito ou não a operação em sua mente, todos se questionarão da mesma maneira, aproveitando bem todos os que passam, de alguma maneira, pela tela. Como falei no início da análise, muitas pessoas poderiam tomar a decisão premeditadamente de deletar uma outra pessoa, e isso é explorado no filme, mostrando os dois extremos da razão, se é que existe uma: Joel, o desesperado embarcando nessa por vingança, e Clementine, a magoada na relação - claro que não direi o porque de sua mágoa. Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças é isso mesmo, uma grande reflexão sobre escolhas e destinos da vida.
Mas ele não é feito apenas de história. Jim Carrey prova mais uma vez que sabe ser sério em uma atuação brilhante, conseguindo dar ao espírito de Joel toda a angústia que o personagem vive. Isso é totalmente perceptível, acredite, você uma hora ou outra estará angustiado com a situação junto com o personagem. Se você é um dos que vai ao cinema esperando por caretas e outras piadas físicas, o jeito é mesmo ficar em casa. Kate Winslet abandona o jeito inocente de Titanic e encara uma personagem totalmente adversa: de cabelos pintados e falando o que quer, Clementine é uma mulher que em nada tem a ver com Joel. Pela ótima química do casal, fica ainda mais fácil embarcar na história de como duas pessoas tão diferentes foram e deixaram de ser felizes.
Elijah Wood deixa o hobbit Frodo para trás e encarna um assistente malandrão que se aproveita de uma paciente do filme (como disse, todas as oportunidades são abordadas por Kaufman); Kirsten Dunt está no mesmo caso, sendo explorada em um outro tipo de situação (não posso dizer qual), e ainda mais bonita que em Homem-Aranha (aliás, não a acho bonita neste filme). Tom Wilkinson encarna o doutor que inventou a experiência, mas sua participação é maior do que isso e, para finalizar o leque de atores principais, temos Mark Ruffalo interpretando o namorado de Kirsten, o homem de confiança do Dr. Howard e que executa muitas das operações de seu consultório.
Quanto a parte técnica, é interessante ver um filme utilizando de efeitos especiais que não sejam explosões ou carros voando pelos ares, principalmente porque todos os ótimos efeitos usados em Brilho Eterno são realmente necessários para que a história progrida. Juntando isso com a excepcional montagem, que vai ligando tudo de maneira brilhante e juntando cenas bem distantes em sua temporalidade com uma suavidade incrível, podemos dizer que a parte técnica está impecável. A fotografia é linda, realista, o que contrasta justamente com todo o mundo onde a história está se passando, e as músicas são bem bonitas e tocantes, ao contrário do que a maioria das comédias românticas costumam fazer (tentar melhorar o filme colocando músicas famosas).
Apesar de toda essa maravilha, ele ainda tem alguns defeitos, como uma ou outra redundância de idéias e a extensão desnecessária de algumas cenas. Talvez pela pouca experiência do diretor Michel Gondry, mas ainda assim este já demonstra um enorme talento. Porém, isso é pouco diante da excepcional experiência que é assistir à Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças. Ver um filme como esse ou Embriagado de Amor me faz ter esperança de que as comédias românticas ainda têm futuro. Claro que não poderia deixar passar em branco o excepcional título do filme. Para se ter uma idéia de toda a reflexão que o filme provoca com suas idéias, tente pensar profundamente no significado e na beleza que "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças" inspira. Garanto que você não ficará indiferente quanto à esse filme, em todos os sentidos.*
Por Rodrigo Cunha
08/08/2004
(*) Texto original extraido do site: www.cineplayers.com/critica

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

BICUDO


Matando o tempo e um pouco da insônia...

Obrigado pelas visitas e comentários!

Abs,
GregOne

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

BITS | PARADIGMAS INSUSTENTÁVEIS

Raras foram as vezes que sofri de insônia em toda minha vida, já é o segundo dia e isso tem me incomodado muito.

Levanto. Tomo um copo d’água, deito. Não paro de me mexer, torcer, retorcer... Não havia posição que ficasse bom ou que deixasse confortável. Será o calor, falta algo, alguém? Talvez. Levanto novamente e apanho algumas folhas A3, lapiseira na mão, começo a desenhar. A hora passa e nada do sono chegar - só folhas amassadas.

Sinto um "vazio" constante, milhares de coisas para serem resolvidas, mas, como resolvê-las, se tudo requer tempo e experiência??? Penso que o melhor é ser paciente e perseverante naquilo que acredito, independente de qualquer coisa – tenho engolido vários sapos, pererecas, girinos cobrar e talvez todo o reino dos anfíbios para conseguir o que tanto venho almejando. Acredito eu estar indo pelo caminho certo!

Ligo o computador. Vou a procura de algo na internet para amenizar o que tem me tirado o sono e que me conforte, (pelo menos esta noite) lembrei-me de um ótimo programa, o Café Filosófico, exibido pela TV Cultura transmitido direto do espaço CPFL Cultura e me deparo com um vídeo muito interessante onde o título era "O Humano Descartável. O vídeo é sobre as relações humanas e a comunicação digital, onde o entrevistado, o jornalista Eugênio Bucci começa o debate apresentando seu texto que fora publicado num artigo em 1997 a 12 anos atrás na revista Veja.


Compartilho abaixo o texto "O bicho virtual é você", que me fez pensar muito na situação da qual tenho sentido na pele nos últimos tempos e que tem sido cada vez mais aceito a medida que achamos que os MSN's, Orkut's, Twitter's, Facebook's dentre outros podem incurtar a distância entre um 0 e um 1 – mais conhecido como código binário, utilizada na linguagem dos computadores.

Até onde o Status "disponível", "aceito", "add", "online" e etc é verossímil? Ou tudo não passa de uma coletânea onde no final todos se resumem numa simples ação. Excluir.



O Bicho virtual é você

Atrás das telas do Tamagotchi talvez exista
um sistema frio em que irreal é o homem.

Todo mundo tem (ou conhece alguém que tem) um Tamagotchi. O animal de estimação eletrônico virou mania. Habitante de um miniaparelho, misto de chaveiro e computador, o bicho é na verdade um ser inexistente. Só o que se tem dele são sinais: de fome, sono, carência afetiva. Apertando botõezinhos, é possível saciar-lhe as necessidades e os desejos. Na tela minúscula, surge então um sorriso, indicando que o mascote está feliz. O dono, sempre uma criança (de qualquer idade), sente-se grandioso, provedor de carinho e cuidado. Pensa que cuida do bicho -- mas é o bicho quem cuida dele (e de suas ansiedades).

O novo brinquedo é a síntese da nossa era, que é mediada e ordenada por telas luminosas. Não apenas a microtela do bichinho, mas a tela do computador, do painel eletrônico do automóvel, das linhas verdes de monitoramento cardíaco. Tudo se organiza como um complexo indivisível, um Tamagotchi planetário. O caixa eletrônico avisa que a conta está no vermelho; é preciso um depósito para que ela fique contente. A televisão não pára de insistir: é Dia dos Pais, ai de quem se esquecer do presente. A tela do telefone celular dá conta de que a pilha está fraca. No monitor do micro, pisca a mensagem não lida.

Do outro lado das telas que comandam o dia-a-dia de qualquer um, outros milhões de uns quaisquer. Um parente, um burocrata, um chefe, um amigo, um cliente, um desconhecido... a(s) namorada(s). Todos virtualizados. Além das contas a pagar e dos recados inúteis, também as demandas emocionais navegam pela teia eletrônica. E a isso se reduz o relacionamento humano: a uma troca de estímulos digitalizados e respostas idem.

Então a tela é somente isso, um suporte vazio para a comunicação digitalizada? A resposta é não: a tela não é tão neutra assim. Há uma lógica à parte dentro dela. Mais ou menos como havia uma ordem invertida no espelho que foi atravessado pela Alice de Lewis Carroll no século XIX. O espelho não era neutro: virava uma "brilhante névoa prateada" e mostrava muito mais do que reflexos. Um século depois, em filmes como Tron, de 1982, A Rosa Púrpura do Cairo (1985) ou O Último Grande Herói (1993), os personagens cruzam a tela para viver realidades simultâneas -- e mais perigosas que o sonho de Alice. Hoje, quem ousasse transpor uma das telas do Tamagotchi globalitário talvez caísse numa paisagem ainda mais assustadora: um sistema frio, em expansão vertiginosa, para o qual as multidões "reais" são uma contingência periférica e não muito relevante. Como insetos em volta da lâmpada. Para esse sistema, virtual é o homem.*

* O bicho virtual é você - Eugênio Bucci - Revista Veja - 13 Agosto de 1997.

Abs,
GregOne